Rebatizei todos os meus silêncios,
plena e indizivelmente.
Thábatta Lorena
Digo dos mergulhos líquidos ao infinito medular
em busca do fundo que não há.
Aqui eu engulo temporais. Digo dos verbos necessários,
como as lágrimas dos ventos a me fazer tempestade
na alma.
Eu ontem chupei beijos de laranja
espremida na boca. Empurrei de leve
o teu peito pra tocar o coração e vazei o invisível.
Digo das mãos o imprescindível, o inacessível
da alma sorvida no oco
das digitais da língua, no tato da palma.
Eu ontem me afiei na lâmina da tua luz para ser aguda e furar o abismo inalcançável onde o amor descansa na véspera do humano.
No fundo talvez seja só isso. Essa vontade de ser eterno dentro.
A morte é um vento grávido e morno que não tem pressa de parir. Quando finalmente ferve, derrete dentes, nervos e aspas. Então sorri.
Shala Andirá
*imagem: Lauren Treece
Cheirava a ossos a nitidez da tarde.
Ela me deu um riso torto enquanto eu esperava.
A solidão entre as pessoas é desigual.
Vivo o silêncio dos gritos.
Era pouco o dia para tanta gente.
A moça de azul desafiou as dores que eu tinha.
A lucidez se perdeu no cesto de frutas e não havia copo para sede.
E de repente tudo perdeu o sentido.
Era estação das flores quando eu acordei e você vivia o inverno.
Mariana Gouveia
*imagem: Lauren Treece
Ai eu sou atraído para a ideia
Dos teus lábios
Explorando meu corpo
Como se fosse um mapa
E você sempre me perdeu
De propósito.
– ryangpoet
*imagem: Lauren Treece